14 de junho de 2018

This all

Eu escrevi, mil vezes, sobre estar no fundo do poço. E todas as vezes, eu realmente achei que estava lá, todas as vezes pareceu o fim do mundo. E ontem, mais do que tudo, pareceu o fim do mundo. Você sabe, você viu. Eu senti a escuridão chegando, se fechando a minha volta, e eu não conseguia mais respirar. Água era tudo que chegava aos meus pulmões. No meio disso tudo, não encontrei palavras. Elas não existiam, não estavam lá, não havia nada além da dor, do desespero em sua face mais profunda. Medo, em sua forma primordial, foi o que conheci naquela tarde. Naquela que deveria ser só mais uma tarde. Aquela tarde, que eu virei de ponta-cabeça, na qual eu baguncei tudo ao meu redor, tudo dentro de mim.
Sinceramente? Todas as mortes que imaginei, e até as que desejei ao longo dos anos, não foram tão dolorosas quanto aqueles minutos, aquelas horas. Que eu nem sei ao certo se foram horas, porque de alguma forma, é como se meu cérebro tentasse colocar uma nuvem sobre o evento, para impedir meu coração de sangrar novamente. Mas isso não é pra falar do quanto eu estava assustada. Nós sabemos que eu estava, todos sabem. Isso é para te agradecer.
Gratidão por ser o único ponto de luz no momento em que eu vi a escuridão se aproximando, como um monstro indomável, e quando, impotente, me rendi a ela. Gratidão por ser a voz da razão, falando mais alto apesar do meu choro desesperado.  Não sei o que eu teria feito se tivesse que passar por isso sem você. Talvez eu ainda estivesse chorando, em algum lugar... Gratidão por me abraçar e por segurar todo o meu mundo, quando eu não era capaz de sequer reconhecer os pedaços de mim mesma. Eu sei que não foi fácil, eu sei que doeu em você também. E embora eu já tenha te pedido desculpas, nunca o terei feito vezes suficiente. 
Ainda dói, é estranho. Alguma coisa se moveu dentro de mim, talvez alguma coisa tenha se quebrado também. Eu não sei, é realmente estranho, quase consigo ouvir o eco dos meus sentimentos, e antes eles não faziam tanto barulho. Ainda estou assustada com as proporções de tudo isso, eu não achei que iria doer dessa forma, não achei que mais de 24h depois, ainda iria doer. Acho que um dia vai passar, uma hora tem que passar. De alguma forma, as coisas vão voltar ao normal dentro de mim, em algum momento. Mas eu não sei como, nem quanto. Essas questões todas provavelmente ainda vão me roubar algumas boas noites de sono, tenho certeza. O mundo deu uma volta, e parou, de ponta-cabeça. Preciso me acostumar com esse novo estado de bagunça, preciso reconhecer esses pedaços antes, para começar a colar tudo. 
Mas, mesmo no meio disso tudo, eu só queria te agradecer. Você me irrita, sabe disso. Mas mesmo quando to brava, sou grata por ter você na minha vida. Gratidão por ter me dito que tudo ficaria bem, por ter me feito respirar quando não havia ar, por ter me abraçado, por ter me tirado do lugar escuro onde me enfiei. Gratidão por estar lá quando ninguém mais estava, quando eu não queria que alguém estivesse, quando tive medo de alguém estar. Gratidão por ter estado lá apesar de todo o resto, por ter parado o seu dia só porque eu sou louca. Gratidão por se preocupar, por me desejar boa noite, por ter secado minhas lágrimas, por ter feito cada pequena coisa que poderia fazer eu me sentir minimamente melhor. Gratidão por estar aqui, por existir e por me amar. E que os deuses me permitam retribuir todas as coisas boas que você tem feito em minha vida. Eu te amo. <3 br="">