Havia algumas poucas horas
desde que eles brigaram. Aquilo não foi uma briga realmente, mas não sabia
direito dizer o que tinha sido. De qualquer forma, precisava de um tempo
sozinho, tinha que colocar a mente e as ideias no lugar. Precisa organizar seus
sentimentos, saber quais eram e o que faria...
Já era noite quando bateu
na porta do quarto dela e esperou, em silencio, por uma resposta que não veio.
Sentiu o coração apertado, um sentimento ruim e estranho. Então girou a maçaneta
e, para sua surpresa, sentiu a porta abrindo-se sem resistência. Estava
destrancada, exibindo um quarto escuro e silencioso que não combinava com
Candice. A cama estava arrumada, as janelas fechadas e havia uma rosa. Uma rosa
solitária sobre a escrivaninha, o único ponto iluminado no quarto. A rosa que
repousava tranquila sob o brilho tênue da luminária ligada.
Fechou a porta e começou a
procurar por ela. Correu todos os lugares de convivência comum, bateu na porta
de todos aqueles que tinham contato com ela, perguntou a todos que cruzaram seu
caminho. A cada resposta negativa, a cada lugar vazio, seu coração se apertava.
Não havia mais onde procurar, não havia mais a quem perguntar... Em desespero,
passava mentalmente os possíveis lugares em busca daquele que passou despercebido.
Falta um sim.
Aaron subiu os lances de
escada correndo, sem acreditar, rezando para estar errado. Quando abriu a porta
para o telhado, seu coração parou. Ela estava lá! Chovia ali fora, chovia
muito. O corpo pequeno estava molhado até os ossos, as roupas coladas ao corpo,
os cabelos ruivos grudados ao rosto e pescoço. Chovia tanto que não era possível
distinguir as lágrimas das gotas de chuva que disputavam espaço em suas
bochechas. Estava frio. O vento não tinha piedade dos corpos, os lábios dela
estavam roxos, tremiam suavemente.
Por um momento, ela parou a
caminhada que fazia. Encarou a porta aberta, o rosto vermelho e quente dele, a
forma como ofegava, o corpo levemente inclinado para frente na busca
desesperada de ar. Ela sorriu, como estava acostumada a fazer. Um sorriso que
se estendeu sobre seu rosto de maneira estranha, um sorriso dolorosamente
triste e se virou novamente. Continuou sua caminhada, ignorou tudo que gritava
dentro de si e continuou.
Colocou o primeiro pé no
beiral e respirou fundo, subindo ali com a leveza de uma folha levada pelo
vento. O coração dele parou ao ver a cena, não podia permitir que isso acontecesse,
não podia. Correu para perto dela, ignorando o frio e a chuva, ignorando tudo
que não fosse ela. Mas parou, a poucos centímetros dela, parou. Parou no
momento em que ela abriu os braços e esticou uma das pernas para o abismo, como
se fosse uma ginasta a fazer uma brincadeira. Pousou o pé, antes no ar, no
beiral. Se equilibrou ali, os dois pés firmes no pequeno espaço de concreto que
mantinha sua alma ainda ligada ao corpo.
Os olhos azuis se voltaram
para ele, os amáveis olhos azuis. Um relâmpago cortou o céu e sua luz pálida se
espalhou, fazendo os cabelos rubros brilharem intensamente. – Candice. Desça. – Ele implorou, a voz
sufocada por tantas coisas, as lágrimas brotando em seus olhos. Lagrimas imperceptíveis,
como as dela. Candy, por sua vez, negou suavemente com a cabeça. – Surpreendente e inevitável, meu anjo. –
Ela murmurou calmamente. Estava de frente para ele, parecia que iria descer,
parecia que a loucura do ato não se tornaria real.
Mas a realidade é uma só, e
a realidade dela sempre foi diferente. A realidade dela sempre foi a loucura,
loucura que lhe acompanhou na vida e que lhe levou a morte... Candice sorriu,
fechou os olhos e abriu os braços. Deixou o corpo cair da trás, acreditando que
algo lhe seguraria antes de atingir o chão. Mergulhou, de costas, no abismo. E
de lá, Candice nunca saiu.