6 de março de 2016

Candice, o final.

Havia algumas poucas horas desde que eles brigaram. Aquilo não foi uma briga realmente, mas não sabia direito dizer o que tinha sido. De qualquer forma, precisava de um tempo sozinho, tinha que colocar a mente e as ideias no lugar. Precisa organizar seus sentimentos, saber quais eram e o que faria...
Já era noite quando bateu na porta do quarto dela e esperou, em silencio, por uma resposta que não veio. Sentiu o coração apertado, um sentimento ruim e estranho. Então girou a maçaneta e, para sua surpresa, sentiu a porta abrindo-se sem resistência. Estava destrancada, exibindo um quarto escuro e silencioso que não combinava com Candice. A cama estava arrumada, as janelas fechadas e havia uma rosa. Uma rosa solitária sobre a escrivaninha, o único ponto iluminado no quarto. A rosa que repousava tranquila sob o brilho tênue da luminária ligada.
Fechou a porta e começou a procurar por ela. Correu todos os lugares de convivência comum, bateu na porta de todos aqueles que tinham contato com ela, perguntou a todos que cruzaram seu caminho. A cada resposta negativa, a cada lugar vazio, seu coração se apertava. Não havia mais onde procurar, não havia mais a quem perguntar... Em desespero, passava mentalmente os possíveis lugares em busca daquele que passou despercebido. Falta um sim.
Aaron subiu os lances de escada correndo, sem acreditar, rezando para estar errado. Quando abriu a porta para o telhado, seu coração parou. Ela estava lá! Chovia ali fora, chovia muito. O corpo pequeno estava molhado até os ossos, as roupas coladas ao corpo, os cabelos ruivos grudados ao rosto e pescoço. Chovia tanto que não era possível distinguir as lágrimas das gotas de chuva que disputavam espaço em suas bochechas. Estava frio. O vento não tinha piedade dos corpos, os lábios dela estavam roxos, tremiam suavemente.
Por um momento, ela parou a caminhada que fazia. Encarou a porta aberta, o rosto vermelho e quente dele, a forma como ofegava, o corpo levemente inclinado para frente na busca desesperada de ar. Ela sorriu, como estava acostumada a fazer. Um sorriso que se estendeu sobre seu rosto de maneira estranha, um sorriso dolorosamente triste e se virou novamente. Continuou sua caminhada, ignorou tudo que gritava dentro de si e continuou.
Colocou o primeiro pé no beiral e respirou fundo, subindo ali com a leveza de uma folha levada pelo vento. O coração dele parou ao ver a cena, não podia permitir que isso acontecesse, não podia. Correu para perto dela, ignorando o frio e a chuva, ignorando tudo que não fosse ela. Mas parou, a poucos centímetros dela, parou. Parou no momento em que ela abriu os braços e esticou uma das pernas para o abismo, como se fosse uma ginasta a fazer uma brincadeira. Pousou o pé, antes no ar, no beiral. Se equilibrou ali, os dois pés firmes no pequeno espaço de concreto que mantinha sua alma ainda ligada ao corpo.
Os olhos azuis se voltaram para ele, os amáveis olhos azuis. Um relâmpago cortou o céu e sua luz pálida se espalhou, fazendo os cabelos rubros brilharem intensamente. – Candice. Desça. – Ele implorou, a voz sufocada por tantas coisas, as lágrimas brotando em seus olhos. Lagrimas imperceptíveis, como as dela. Candy, por sua vez, negou suavemente com a cabeça. – Surpreendente e inevitável, meu anjo. – Ela murmurou calmamente. Estava de frente para ele, parecia que iria descer, parecia que a loucura do ato não se tornaria real.

Mas a realidade é uma só, e a realidade dela sempre foi diferente. A realidade dela sempre foi a loucura, loucura que lhe acompanhou na vida e que lhe levou a morte... Candice sorriu, fechou os olhos e abriu os braços. Deixou o corpo cair da trás, acreditando que algo lhe seguraria antes de atingir o chão. Mergulhou, de costas, no abismo. E de lá, Candice nunca saiu.