25 de fevereiro de 2016

Candice, um acontecimento.

- Delirium? – Ele sussurrou lentamente, quando finalmente a encontrou no meio da floresta, sob as arvores de copas densas. Feixes da palidez da lua cheia mostravam o caminho, permitindo que se caminhasse sem quebrar o pé, mas não que se enxergasse muito além.
Ela sorriu de lado, de costas para ele. Era assim que a chamavam nas missões, não? Era assim que a chamavam quando ninguém podia chamar seu nome, quando não era seguro para as pessoas a sua volta saberem quem estava no controle, quando ninguém deveria saber que a professora era louca, que a líder da missão era uma assassina.
Charlotte não se virou, apenas continuou o que estava fazendo. Com a cabeça levemente inclinada de lado, os cabelos rubros caindo numa bonita cascata, ela continuava entalhando a pequena cruz na arvore. Ouviu, mais do que sentia, ele se aproximando lentamente, os galhos e folhas secas se quebrando sob o peso do corpo musculoso. Ela poderia mata-lo em aproximadamente trinta segundos, se ele não conseguisse lhe segurar...
O coração dele batia tão rápido que jurava ecoar por toda a floresta, mas não podia desistir agora. Parou de caminhar. Cinco, talvez seis passos estavam entre ele e aquele corpo pálido, vestido de branco e manchado de vermelho. – Candice... – Sua resposta foi o silencio. O corpo não se moveu, aquele não era seu nome, afinal. – Olha, Candy. Nós precisamos conversar. Você não pode sumir por cinco dias. Eu estava preocupado! Perguntei para todos os professores e ninguém sabia onde estava, e quando fui atrás do Chase para pedir um grupo de buscas, ele me disse para te deixar em paz. Disse que eu nunca seria capaz de te entender, de te aceitar. O que está acontecendo, Candy? – Ele abaixou o rosto, fitando os próprios pés.  O coração batia tão rápido, os olhos estavam cheios de lágrimas que com muito custo ele mantinha sob controle. – Eu senti sua falta, meu amor. – Sussurrou lentamente.
Algo se moveu dentro de Charlotte. Algo pequeno, doce e gentil. Uma voz suave que chamou pelo rapaz, uma voz que implorou o nome dele. Mas a voz de Charlotte, dentro de si mesma, era mais forte e o que foi libertado, voltou a trancar-se num lugar muito profundo. A ruiva respirou fundo, mordendo o lábio inferior lentamente. – Sabe, Aaron. – Ela começou, muito devagar. A voz era indiferente, mas bela, aveludada. Havia certa sensualidade mortal escondida sob camadas de gelo. – Você precisa entender algumas coisas sobre mim. Aliás, algumas coisas sobre nós. – A ultima palavra fez Aaron levantar a cabeça no exato momento em que Charlotte virou o corpo e só então o rapaz entendeu que aquela não era sua namorada.
Seus pés estavam descalçados, meio machucados pela floresta, com lama colorindo a pele branca até a altura dos tornozelos. O vestido branco de mangas longas estava tingido de vermelho-escuro, manchado de sangue seco na altura dos joelhos e abdômen. Mas o tom de vermelho nos braços, próximo aos pulsos, era mais vivo. Um vermelho forte onde o tecido estava molhado, grudado a pele. A faca girava habilidosamente entre os dedos, como se estivesse nascido ali, como se aquele fosse seu lugar natural.
Mas foi no rosto, aquele belo rosto que um dia tanto amou, que Aaron encontrou o que mais temia. Os lábios mostravam um sorriso lindo, tão lindo que seria possível se apaixonar apenas lhe olhando, mas esse sorriso era frio. Em seu rosto havia sangue, como há no chocolate no rosto de crianças pequenas. Os olhos, normalmente de um azul claro e celeste, estavam diferentes. Desiguais! Um de seus olhos exibia um verde profundo e outro era azul, de um azul tempestuoso. Mas ambos eram perigosos, mostravam uma fúria contida.
Todos os sinais de existência de Candice estavam lá. A aliança brilhando no dedo anelar da mão direita e sob ela, um anel mais fino com uma pedra roxa. O colar com pingente de cupcake estava ali, no lugar que ele tinha colocado uma mês antes. As unhas longas pintadas de pink, com pequenas flores brancas como decoração... Todos os sinais estavam lá, mas Candice não.
Charlotte deu um passo lento para frente e embora todos os sentidos de Aaron lhe mandassem correr, ele não se moveu. – Candice. – Ele sussurrou numa esperança vã de ver os olhos dela voltando ao normal. – Gêmea errada. – Charlie deu outro passo para frente. – Sinceramente, nessa altura do campeonato, eu achei que você já tinha notado que era eu. – Sussurrou, revirando os olhos, claramente entediada.
Depois de um longo momento, Aaron finalmente reuniu toda a coragem necessária e deu um passo para frente, puxando a mão direita da garota gentilmente. – Isso é dela, não seu. – Murmurou, sentindo novamente os olhos cheios de lágrimas. Onde estaria Candice?
Charlotte puxou a mão, livrando-se do contato dele brutamente. – Você não entende. – Por um momento, a voz dela pareceu doce e quase frágil. Por um momento, se parecia com a voz de Candice. Ela se virou, voltando para perto da arvore, passando os dedos lentamente por cada cruz que tinha entalhado ali. A verdade era que ela também não entendia e isso fazia com que se sentisse mal e estranha, mas Aaron entendia. Depois de alguns momentos no qual o silencio pareceu se estender por toda floresta, Aaron finalmente entendeu.
Compreendeu que a mente da Candice era uma bagunça, tanto quanto a de Charlotte. Compreendeu que eram uma só, mas que nenhuma das ‘duas’ tinha o conhecimento disso. Precisava entender como aquilo funcionava, precisava fazer algo, mas antes... Antes tinha que trazer sua amada de volta.
Assim, ele caminhou para perto dela e respirou fundo. – Candice. – Chamou novamente, e o corpo a sua frente apenas encostou a testa na madeira áspera, suspirando. – Eu sei que você está me ouvindo, Candy. – Murmurou, passando os braços ao redor da cintura da garota, colando seu tórax as costas dele. A primeira reação de Charlotte seria enfiar a faca no pulso do garoto, mas ela não o fez. Uma batalha era travada dentro de si mesma. Candice queria o controle, queria voltar e estar com Aaron. Charlotte precisava continuar ali, precisava terminar o que começou.
Um ruído lento encheu o lugar quando a faca foi cravada na arvore. O poder da ruiva estava saindo do controle, lutando para manter uma linha aceitável de realidade entre as duas. Pela primeira vez, e provavelmente pela ultima, Aaron ficou preso na mesma ilusão que sua namorada estava desde o nascimento, pela primeira vez ele viu e entendeu como era o mundo de Candice.
“ Candice estava com a cabeça encostada na arvore, os olhos azuis como um lago calmo. Os braços de Aaron ao redor de sua cintura, a sensação do corpo protetor dele contra o seu. Alguns metros a sua frente havia uma figura exatamente igual a Candice, exceto pelos olhos. Olhos multicoloridos e tempestuosos. Aquela era Charlotte e essa mesma Charlotte deu um passo para frente, colocando a mão sobre a de Candy, que estava apoiada na arvore. – Irmã. Minha pequena e doce irmã. Você precisa vir comigo, Candy. Eu preciso terminar isso, você sabe que preciso. Eles machucaram a todos nós, irmã. Eu preciso fazer isso. – Sua voz era tão doce quando falava com a irmã. Muito diferente da louca que tinha falado com Aaron.  
Os olhos de Charlotte encontraram com o do rapaz e ela pareceu rosnar, exibindo os dentes pontudos e artificialmente afiados. – Preciso ficar com ele, Charlie. Eu não posso ir contigo, irmã. Já faz cinco dias que nós saímos. Eu preciso ficar com ele, não posso deixa-lo sozinho. Você sabe que ele corre perigo. – A mão livre de Candice passava sobre as mãos ao amado enquanto falava. Aaron observava a cena, pasmo com a complexidade do poder da ruiva, pasmo com as dimensões que aquilo tomava e verdadeiramente tocado por finalmente poder entender o quanto aquilo afetava a vida da instrutora.
Charlie esticou a mão, tirando delicadamente uma mexa do cabelo vermelho que cairá sobre os olhos azuis daquela que era doce. – Eu sei, minha rainha, eu sei. Mas só falta um, Candice. Só um e eu terei terminado, só mais um. Você sabe que eu preciso fazer isso e sabe que, de certa forma, isso ajudará a manter esse aí seguro. – Murmurou, dirigindo um olhar gélido ao rapaz que ainda abraçava aquela que amava. E foi essa, foi sua amada que afirmou com a cabeça. Meio convencida, meio derrotada.
Candice soltou as mãos de Aaron de sua cintura e se virou lentamente, ficando de frente para o rapaz. Passou os braços em volta do pescoço dele, sorrindo como um anjo. Sorrindo como ele se lembrava, como da primeira vez em que viu ela. – Meu amor... Dois dias, está bem? Só mais dois dias e eu estarei de volte. Encontre-me no penhasco, no nascer do sol do terceiro dia. Eu vou estar te esperando, prometo. – Murmurou e antes que ele pudesse lhe responder, ela o beijou. Candice beijou o rapaz com todo seu amor. E Aaron, imerso na ilusão tanto quanto sua namorada, retribuiu o beijo com lágrimas gélidas deslizando sobre as bochechas quentes. Seus lábios se separam lentamente e Candice se afastou do amado pra chegar perto da irmã. Beijou o rosto de Charlie demoradamente e se afastou, sumindo na escuridão da floresta. ”
Aaron era incapaz de dizer se tudo aquilo aconteceu de verdade ou se era apenas uma ilusão. O fato era que Charlotte estava ali, parada a sua frente. Os dedos estavam firmes ao redor do cabo da faca, os olhos disformes que encaravam o rapaz eram frios e assassinos. – Agradeça a tudo que conhece por ela te amar tanto. Essa é a única coisa que te mantém vivo. – Sussurrou, tirando a faca da madeira e virando-se. Da mesma forma que Candice, na ilusão, a ruiva caminhou lentamente e sumiu na escuridão da floresta.
E o rapaz? Ele foi incapaz de continuar, incapaz de sair dali. Passou os dedos lentamente por cada cruz talhada na arvore. Então se encostou à mesma, deslizando o corpo até estar sentado no chão, abraçando os joelhos e deitando a cabeça sobre os braços cruzados. Assim, no silencio da floresta, beijado pela luz imparcial da lua, ficou pensando em Candice. Em Candice, em Charlotte, em todas as coisas que viu. Passou a noite pensando... Em Delirium.

Candice, a historia.

Candice Harris Murphy, a filha única de Stacey e Louis. A menina de ouro da família... Ou quase isso.
Toda criança, quando pequena, vê coisas que nenhum adulto consegue ver. Com a pequena Candice não era diferente. Ela tinha inúmeros amigos imaginários, passava horas brincando sozinha no enorme jardim de sua casa e preferia a companhia do que era produzido por sua mente a companhia das crianças das redondezas. Seus pais nunca desconfiaram de nada, até que, aos sete anos, Candice passou a afirmar que tinha uma irma gêmea chamada Charlotte.
Stacey e Louis estavam certos de que isso iria passar logo, afinal, sua filha era uma criança saudável e apesar de ser um pouco tímida, era amável e tinha boas notas e bom despenho escolar. Mas os anos passaram e embora alguns amigos imaginários tenham se afastado, a imagem de Charlie permanecia junto a ruiva. Candice passava horas sentada sob o carvalho, o caderno de desenho sempre firme enquanto rabiscava e a voz sempre melodiosa, respondendo a alguém que só ela ouvia.
Numa tarde, com a garota já tinha aproximadamente quinze anos, seus pais resolveram entrar em seu quarto enquanto a menina estava na escola. Vasculharam cada canto do cômodo e ao abrirem o closet, encontraram a pior cena de suas vidas. Nas paredes haviam desenhos, terrivelmente realistas, de pessoas mortas das formas mais violetas e brutais possíveis. Os desenhos mostravam pessoas decapitadas, enforcadas, desmembradas e por aí a fora.
Ao chegar em casa, diante da família em pânico, Candice tentou explicar aos pais que ela não fizera nada daquilo. Que eram os desenhos que Charlotte lhe pedia para fazer, que estavam ali porque sua irmã havia colocado lá... Mas explicação alguma livrou a doce garota de seu terrível destino. Louis convenceu a esposa que era perigoso manter a filha em casa e assim a ruiva foi mandada a um manicômio, onde o inferno de fato começou.
Por não ser considerada violenta, Candy podia transitar livremente pelo hospital. Ela tinha um bom relacionamento com os outros internos, era paciente e até ajudava nas aulas de artes do lugar. Mas isso não impediu a garota de desenvolver raiva e repulsão por seus pais, afinal, Candice não havia feito nada e ela simplesmente não entendia porque todos ignoravam Charlie quando era obvio que a irmã estava ali, bem ao lado dela, o tempo todo.
Grande parte dos enfermeiros e responsáveis pelo hospital gostavam da menina, embora estivessem todos convencidos que ela era realmente louca, havia algo de muito especial nela. Candice compreendia facilmente os acessos de raiva dos outros pacientes e ajudava a controlar aquilo quase como se estivesse dentro da mente das outras pessoas. Também possuía uma facilidade incrível para aprender diversas coisas, como idiomas e musica.
De um modo geral, as coisas caminhavam bem. Algumas pessoas até fingiam ver Charlotte para confortar a ruiva. Mas havia uma única pessoa que não via Candice como os outros. Havia um homem que desejava aquela pequena ruiva de forma brutal e esse foi o inicio da explosão mais grave da vida da menina.
Numa noite, Scott entrou no quarto da menina enquanto a mesma dormia e tentou toma-la a força. Num estalino surdo, algo despertou dentro da garota, uma parte delicada de seu poder, algo que saiu completamente de seu controle...
Quando o sol nasceu, Scott estava morto. Seu corpo estava sobre a cama de Candice, as pernas torcidas num ângulo doloroso, a garganta arranhada até que as veias se rompessem, o corpo cheio de marcas roxas e sob as unhas, grandes quantidades de pele e sangue. O vigia do hospital estava em posição fetal, chorando sem conseguir formar uma única frase coerente e Candy havia desaparecido.
A policia foi avisada do ocorrido, mas já era tarde demais para a ruiva ou sua família. Em meio ao frenesi assassino causado pelo descontrole de seu poder, Candice dirigiu-se a sua antiga casa e esfaqueou os pais de forma brutal, até a morte, para depois desmembra-los.
Felizmente, alguém observava Candice há tempos e embora não tenha conseguido agir durante o surto, chegará antes da policia.
Quando Sebastian atravessou os portões da casa, encontrou a ruiva cavando um grande buraco sob o carvalho do quintal. Os corpos desmembrados estavam jogados de lado numa confusão de braços, pernas e cabeças. Os olhos azuis dela, brilhando pela insanidade, encontraram os olhos do maior. – Se você contar a alguém, ela vai atrás de ti. – Sussurrou. Sebastian limitou-se a afirmar com a cabeça. – Está tudo bem, pequena. Eu vim ajuda-la. – Embora não devesse confiar nos outros, a menina continuou cavando. – Candice. – A voz dele a fez parar sua tarefa. – O que aconteceu? – Aquela era uma pergunta  importante. Ele sabia o que tinha acontecido, mas precisava saber como a ruiva via tudo aquilo.
Candice suspirou, enfiou a pá no chão e pegou dois braços, jogando-os no grande buraco. – Não é culpa dela, Charlie só queria me proteger. – A menina não parecia perturbada com o que acontecia, não parecia se importar com os corpos. – Sabe, eles foram malvados com a gente, nos mandaram embora sem motivo. Se tivessem deixado a gente viver aqui, Scott não teria feito aquilo e estaria tudo bem agora. – Explicou, enquanto ia colocando o resto dos corpos no buraco. Quando finalmente colocou todas as partes, ela pegou a pá novamente e fitou Sebastian por um longo momento. – Charlotte é uma boa menina, ela só estava cuidando de mim. E agora eu preciso cuidar dela, preciso limpar tudo. – A menina sorriu e seu sorriso era doce e encantador como o de uma criança; e assim ela voltou ao trabalho, enchendo o buraco de terra.
Naquele momento Sebastian entendeu o quanto o poder da garota era forte e o quanto o mesmo era capaz de mexer com a noção da realidade que a pequena Candice tinha... Com certo esforço, o maior convenceu a menina a ir com ele e assim a ruiva na fundação meyers. Logicamente, nem tudo eram flores. Embora tivesse o temperamento amigável na maior parte do tempo, Candy costumava se descontrolar quando se sentia ameaçada e isso era perigoso.
Muito tempo e esforço foi investido no treinamento da menina. Anos se estenderam a exaustão para que um maior controle fosse obtido. Felizmente, Candice teve sucesso em muitos pontos de seu treinamento. Tornou-se uma boa lutadora, embora passasse dos limites em certos momentos. Entretanto, mesmo com toda sua evolução, nunca foi possível convencer a garota que Charlie não existia, que era apenas fruto de seu poder, uma vez que só tocar no assunto provocava uma crise.
Devido a seu temperamento e aos mutantes novos que chegavam as pencas na fundação, Candice foi escolhida para dar aula de tortura e métodos de persuasão. Afinal, a garota passou boa parte da vida ali, se tornando uma mutante com dons incríveis e provando que existe muito por trás de um doce sorriso. Hoje em dia, felizmente, Candy consegue controlar melhor suas crises de raiva, mas as vezes, Charlotte toma o controle e nesses momentos...

Bom, nesses momentos eu agradeço por não ser um inimigo.

Liesel

Domingo, 09 de Janeiro de 1905.
Era uma manhã fria quando Liesel, como outras cem mil pessoas, saiu de casa. Caminhavam pacificamente em rumo ao palácio de inverno de São Petersburgo, residência do Czar Nicolau II, que havia afundado a Rússia numa crise sem precedentes na historia.
Toda a população estava insatisfeita. Havia fome, desemprego e morte por todos os lados. Até mesmo a família Hans, que era de uma classe econômica confortável, estava ali, indignada com tudo que acontecia a seu povo e país. Liesel não concordava com os ícones santos da igreja ortodoxa que eram exibidos no meio da manifestação, muito menos as pessoas que passavam na rua e lhe faziam o sinal da cruz, mas entendia que aquilo mostrava o quanto eram pacíficos.
Seus pais, na linha de frente da manifestação, carregavam orgulhosos a petição por melhoras com 130 mil assinaturas, a maioria tendo sido conseguida por eles próprios, Elizabeth e Yuri Hans. Sua filha ia bem mais atrás, perdida no meio dos pensamentos de ódio que nutria pelo czar. Tudo que ruim que vinha acontecendo na vida da loira era culpa daquele monstruoso imperador.
Ao longe, já era possível ver a estrutura do palácio e assim que se aproximaram do mesmo, os primeiros tiros foram ouvidos. Foi tudo rápido demais, um turbilhão de sons agudos, gente correndo, vozes desesperadas gritando e o mundo sendo tingido de vermelho. Embora tentasse lutar para chegar até a linha de frente, chegar até seus pais, a multidão puxava a menina em todas as direções, afastando-a ainda mais de seu objetivo.
Passado duas horas, a multidão já havia de dispersado. Liesel voltou para casa, mas encontrou o imóvel no mesmo estado em que estava quando saiu. Completamente vazio. Foi assim, correndo e com o coração na boca, que ela voltou para a pior cena de sua vida. Os corpos ainda estavam caídos aos montes na rua, alguns pisoteados ao ponto de não serem reconhecíveis. Os guardas ainda estavam lá, com as armas em mãos, mas não fizeram nada diante do horror da loira que, em passos lentos, começou a procurar rostos conhecidos em meio aos mortos e infelizmente, encontrou.
Seu pai estava deitado no meio da rua, um ferimento grande no pescoço, o braço esmagado como se um bilhão de pessoas tivesse pisado no mesmo. Já Elizabeth, sua amada mãe, estava sentada próxima a uma arvore, com um ferimento no tórax que sangrava muito... Ao se aproximar, Liesel percebeu que a mãe ainda respirava, e tentou, em vão, levantar a mulher. – Não, minha pequena, não... Pegue isso e entregue ao seu padrinho, ele saberá o que fazer. Vá logo, antes que eles mudem de ideia e lhe matem também! – A voz da mulher era muito baixa, rouca. E juntando todas suas ultimas forças, a morena colocou a petição, manchada de sangue inocente, nos braços da filha.
Desolada, a menina só soube chorar, abraçada ao corpo já sem vida de sua mãe. E não conseguiu dizer quantas horas se passaram até que chegasse a equipe para retirar os corpos do lugar, forçando Liesel a se separar dos pais e voltar para a casa com uma petição inútil e um buraco enorme onde deveria estar seu coração. Buraco esse que foi preenchido pelo ódio que alimentava do Czar. Naquele dia, Liesel jurou vingança a qualquer preço.



Quarta-feira, 14 de março de 1917.
Doze anos se passaram desde que Liesel perdeu toda sua humanidade e passou a ter dentro de si apenas a raiva, e a vingança passou a ser seu único objetivo. Ela faria Nicolau II perder tudo, começando pelo reinado.
Sozinha no mundo, a menina passou a buscar meios para conseguir sua vingança. Encontrou, por acaso, um homem que lhe ofereceu ajuda para sustentar-se e prometeu lhe ensinar meios de conseguir o que queria. Para isso, ela só precisava casar com ele. Ivan Krolling  era um homem gentil, de feições simples, embora não feias. Ao final, casar-se com ele não foi um grande sacrifício depois de tudo que lhe foi ensinado.
Mas Liesel era uma garota bonita, alias, era uma garota linda. Cheia de desejos pecaminosos, que despertaram o interesse de muitos homens, pobres e ricos, embora apenas os ricos acabassem em sua cama... Para sua felicidade, ou infelicidade, um certo demônio também ficou interessado naquela beleza e no instinto natural e perverso.
Naquela noite, quando as estrelas apareceram, mas a lua não foi vista, Liesel saiu e caminhou por muito tempo, enfiando-se na mata até encontrar uma clareira de tamanho considerável. Ali, longe de todos os olhos humanos, despida completamente, a loira traçou um pentagrama no chão e acendeu treze velas negras. Em pé ao centro do pentagrama, com o livro em mãos, passou a entoar lentamente as palavras que lhe foram ensinadas, invocando aquele que deveria conceder sua vingança. E ele veio, mas não sozinho.
A sua esquerda formou-se a figura de Alastor, o demônio da vingança e do crime. E tão logo a presença dele fez-se presente, surgiu outra, muito mais forte e imponente. Era Asmodeus, o demônio da luxuria, um dos sete príncipes. – NÃO OUSE! – Ele murmurou, a voz poderosa. – Não fale com ela. Ela é minha! Não me importa que ela tenha te invocado, pois posso realizar os desejos de Liesel muito melhor do que você jamais poderia. – A figura humana fez um meio circulo, caminhando lentamente em direção ao outro. – Eu a observei durante algum tempo e ela será minha. – Prometeu.
Diante das ameaças do príncipe, Alastor retirou-se tão subitamente quanto veio e Asmodeus virou-se para Liesel que permanecia imóvel no centro do pentagrama. – Liesel, Liesel, Liesel. – A voz dele era sensual e a loira quase era capaz de esquecer o motivo de estar ali. – Invocando um demônio menor quando és, obviamente, minha? Achou mesmo que eu iria perder sua alma? – Enquanto falava, ele caminhava em direção a ela. Os passos lentos, o corpo tornando-se visível a medida que se aproximava.
Liesel não era capaz de acreditar em como aquele príncipe era bonito. Era apenas um disfarce, ela sabia, mas era lindo. Tinha os músculos todos bem definidos, o queixo bem desenhado e uma barba por fazer, exatamente da forma que mais lhe atraia e ela perdeu-se nos olhos negros ele. Ali, via-se cenas de sexo e violência mutuamente e a loira encarava-o sem medo algum. – Diga-me o que quer. – Ele murmurou, o corpo a centímetros do dela. – Vingança. – A voz dela era firme. – Quero que czar Nicollau pague pelo que fez. Que perca o reinado e a família, como aconteceu comigo. – Os olhos azuis dela faiscavam com a raiva.
Asmodeus riu. Uma gargalhada genuína. Segurou o queixo da menina, olhando-a de cima a baixo, analisando seu perfeito corpo nu. – Não pede nada que eu não possa fazer, é verdade. Mas tudo tem um preço... Eu vou realizar seu primeiro desejo e em troca, será minha escrava. Se fizer isso bem, eu lhe darei o segundo desejo. – A voz dele não admitia discussões e Liesel apenas afirmou com a cabeça, sorrindo de lado. – Me parece um ótimo acordo. – Murmurou. Era claro que lidar com demônios para especialmente perigoso e que ela, provavelmente, não sabia ao certo onde estava se metendo, mas aquilo não tinha a menor importância. Liesel iria ao fim do mundo por sua vingança.
Para selar o acordo, o príncipe beijou a russa com uma veracidade que ela desconhecia e lhe possuiu ali mesmo de forma tão violenta que, horas depois, Liesel ainda estava deitada no chão gélido, nua. O sol começava a tingir o mundo de dourado quando ela se sentou e observou o próprio corpo cheio de manchas roxas, marcas profundas de mordidas e inteiro dolorido. Aquela havia sido a noite a primeira de muitas noites na qual, em êxtase nos braços de Asmodeus, a loira se permitiu ser consumida e praticamente violentada.
Como prometido pelo demônio, em 15 de março, o dia seguinte ao encontro com Liesel, czar Nicollau II abdicou de seu trono e dali em diante, seu destino foi selado. A loira se tornou, para o resto da eternidade, a escrava mais devota do príncipe.
Quarta-feira, 17 de Julho de 1918.
Pelos próximos 16 longos meses, Liesel foi a escrava de Asmodeus. Não apenas no sentindo sexual, ela fazia milhares de coisas para o demônio e as vezes, a mando dele, até seguia ordens de demônios de patentes mais baixas.
Ainda sim, o príncipe consumiu a loira até a ultima gota de sua essência, pois ela era diferente. Ela era inteiramente perversa, de um jeito que poucas vezes é encontrado e que por muitos é cobiçado. Liesel era má do jeito que poucos humanos são capazes, uma maquina de sexo e morte.
Aos 22 anos, com a saúde frágil, ela recebeu a noticia que czar Nicollau estava morto, que havia sido executado junto com toda sua família e esse dia, no mesmo dia da morte de seu maior inimigo, Liesel partirá também. Aquela foi a ultima vez que ela virá Asmodeus. O príncipe apareceu para lhe tomar pela ultima vez, fazendo com que a garota se tornasse uma succubus.
Atualmente
Liesel acreditou que sua morte humana significasse liberdade, mas estava errada. Embora raramente seja convidada a cama de Asmodeus, ela ainda lhe é uma serva fiel e devotada. Lie segue as ordens do principe em parte por obrigação e em parte pela gratidão da vingança que lhe foi concedida.
Ao longo de varios anos servindo Asmodeus, a succubus se tornou uma das preferidas do principe, sendo praticamente seu braço direito. Naturalmente sensual e cruel, Liesel vaga pelo mundo todo atendendo os pedidos de seu Mestre.

Lilith

Uma historia

A historia de como Annick deixou de ser uma simples dançarina do Cabaret para se tornar uma agente da Deic passa diretamente pela cama do diretor da organização, Chase Danniels.
Dona de uma beleza incrível, em partes pela própria natureza e em partes pela mutação, Annick sempre chamou muita atenção. Rodou o mundo viajando, conquistando amores e usando homens com grande poder aquisitivo para ter tudo do bom e do melhor.
Foi em uma dessas viagens junto a um rapaz com gostos incomuns que a russa conheceu o Nigth Desires Cabaret e, por consequência, Gabrielle... Annick nunca havia pensando em seguir uma profissão como aquela. Ser dançarina em um clube noturno nunca estivera em seus planos, mas diante dos convites de Gabrielle e das oportunidades que via circulando pelo salão, a garota acabou por aceitar.
Em pouco tempo tornou-se uma das dançarinas preferidas dos frequentadores do local. Era claro que haviam muitas garotas bonitas naquele lugar, mas poucas eram como Lilith e poucas era tão exclusivas e seletivas. Com o tempo a garota foi descobrindo que a maioria das garotas que trabalhavam ali eram mutantes, mas poucas tinham o mesmo dom que ela. Para completar o pacote, a loira tinha gostos muito peculiares e deveras atrativos.
Annick começou a chamar a atenção do mais importante frequentador do cabaret.  Sendo muito boa para seduzir e persuadir as pessoas a fazerem tudo que ela queria, a loira logo foi convidada para conhecer a cama de Chase Danniels, o mutante mais poderoso que já ouvirá falar.
Lentamente, Chase foi vendo o enorme potencial da mutante. Annick, por sua vez, estava completamente seduzida por todo poder que o rapaz tinha e representava. Assim formou-se uma relação muito perigosa. Annick foi convidada a Deic e sempre cumpriu as ordens que foram lhe dadas sem chamar muita atenção. Afinal, poucas pessoas eram capazes de dizer não a succubus. Dessa forma Lilith tornou-se um dos brinquedos preferidos de Chase.


Um fato

Chovia muito naquela noite, o vento estava extremamente forte e frio, muito incomodo. Era feriado de ação de graças e isso, somado ao clima, constituía uma das poucas ocasiões nas quais o Cabaret ficava vazio.
Annick estava deitada no palco, a cabeça para fora do mesmo, vendo o mundo de ponta cabeça. A perna direita cruzada sobre a esquerda, os seios amostra dentro da blusa preta num ângulo muito revelador. A saia curta presa entre as coxas para que não revelasse mais do que o necessário.
A música ambiente era suave, ninguém estava realmente dançando. Algumas garotas estavam espalhadas pelo lugar, sentadas cobre o balcão do bar ou nos pequenos sofás espalhados por todo o salão principal. Um homem solitário bebia e jogava conversa fora com uma das meninas, casualmente.
Por um momento ela fechou os olhos, com tédio. Ouviu passos lentos, mas isso não a fez reagir. Seus olhos só se abriram quando mãos quentes tocaram seus seios por um breve momento, alisando-os. Era ele! Lindo como sempre, colocado dentro de um terno preto que o deixava ainda mais perfeito. Como se isso fosse realmente possível... – Tenho uma missão para você. – Murmurou, se virando e caminhando na direção dos fundos do salão. Abriu os olhos para ve-lo, de ponta cabeça, subindo a escada que dava acesso a área secreta e extremamente vip.
Ágil e extremamente leve, Annick posicionou as duas mãos, uma de cada lado da cabeça e impulsionou o corpo, dando um mortal para trás. Parou em pé a poucos metros do palco e sorriu sozinha. Os passos rápidos lhe guiaram ao final do salão e a garota subiu as escadas quase correndo. Passou pelo bar da área vip, pegando uma dose de whiskey que já estava a sua espera e finalmente entrou na sala de reunião.
No cômodo havia uma grande mesa retangular, de madeira escura. Ao redor da mesa algumas cadeiras estavam posicionadas e cinco ou seis pessoas estavam sentadas nas mesmas, ouvindo Chase. Quando Annick abriu a porta e entrou, todos os homens da sala lhe acompanharam com o olhar nada discreto.
A loira se inclinou sobre a mesa, colocando o copo na frente do homem e parou ao lado dele. Chase estava sentado na beira da mesa, o típico lugar do ‘feche de familia’. Afastou um pouco a cadeira na mesa, batendo suavemente sobre a perna esquerda. Acostumada com aquilo, Lilith sentou-se no colo do chefe e passou a escutar com atenção o que Chase falava a todos. A mão do maior brincava tranquilamente no corpo da garota, deslizando entre seu quadril e suas coxas com a calma que apenas quem toca em algo que lhe pertence há tempos é capaz de ter.
Quando ele acabou de passar as instruções gerais, voltou-se para a loira. Os olhos dele se encontraram aos dela. Azul contra azul, e embora fossem tão parecidos, Annick achava os dele infinitamente mais bonitos. – Meu brinquedo... – Ele sussurrou, subindo a mão ao cabelo dela e envolvendo os deles ali. – My Lord. – A voz dela era gostosa, melodiosa. Chase puxou o cabelo da garota para trás, expondo seu pescoço e fazendo um gemido muito suave escapar de seus lábios. Beijou-lhe o pescoço poucas vezes numa espécie de exibicionismo muito particular. Ambos sabiam que todos os homens naquela sala olhavam a cena, e sabiam também que todos invejavam Chase.
Ele soltou as madeixas loiras, Annick estalou o pescoço e voltou a encara-lo. – Leve-o até o hospital. Sem rastros. – Murmurou a ordem, seco e direto como sempre. – Quanto tempo? – A voz dela era suave, ela sorria. – Duas horas. – O sorriso sumiu do rosto da loira. Não era muito tempo, mas ela daria um jeito. – Sim, senhor. – Sussurrou.
Com um aceno de cabeça dele, ela se levantou. Começava a se afastar quando sentiu um tapa forte sobre a bunda. Virou-se para encara-lo. Ele sorriu e piscou para ela. Mortalmente sexy, mortalmente poderoso. Annick se limitou a sorrir e saiu da sala.

Ruby

A HISTORIA

Ruby é o fruto da união mais perigosa que o mundo da magia já teve noticia. Filha de Julien Mayfair e Prudence Halliwell, a garota une todo o poder natural dos Halliwell à beleza, persuasão e sedução dos Mayfair.
De sua mãe, Ruby herdou a seriedade e os encantos, além da paixão por historia e do lendário Boss das Halliwell. Já de seu pai ganhou uma fortuna inestimável, a famosa esmeralda Mayfair e Lasher, uma entidade meio demônio e meio divindade celta, que acompanha a família desde que Suzanne, a primeira bruxa Mayfair, lhe invocou.
Nascida e criada no Garden District, Ruby sempre teve consciência de quem era, do que era e de tudo que as coisas a sua volta significavam. Sabia, tão logo tivera idade para entender tal coisa, que seria a herdaria do ‘legado’ e por isso fez o melhor que pode desde sempre para condizer com sua posição familiar. Foi uma aluna exemplar e bruxa incrível, mesmo entre seus antepassados. Guiada por uma curiosidade quase mórbida, deu continuidade aos experimentos de sua tia, Marie Claudette, e a tradição de sua mãe de criar encantamentos extremamente funcionais.
Atualmente, mora sozinha na mansão Mayfair e administra o legado com a ajuda de diversos primos, em sua maioria advogados de renome, já que a fortuna da família tomou proporções grandes demais para serem controladas por uma única pessoa, ainda que Ruby seja a beneficiaria legal... Ao passo que a jovem lida com sua vida na cidade, seus pais viajam pelo mundo desfrutando dos prazeres da vida e fazendo novas descobertas que, muitas vezes, são extremamente uteis para a bruxa.


UM PEQUENO ACONTECIMENTO

Manhã de 31 de Outubro.
Comemoração de Samhain.
Décimo quinto aniversario de Ruby.
Ruby ainda estava deitada, enrolada nas cobertas como uma criança, embora a luz do sol atravessasse as janelas, enchendo o quarto com o brilho dourado do amanhecer. A garota se virou, escondendo o rosto no travesseiro em protesto ao inevitável. Foi então que alguém bateu na porta, delicadamente. Diante do silencio, as batidas continuaram e a garota obrigou-se a levantar a cabeça do travesseiro para murmurar um ‘entre’.
Prudence abriu a porta apenas o suficiente para colocar a cabeça dentro do cômodo. Riu ao ver a situação da filha, novamente com o rosto escondido no travesseiro. – Ruby. Levante-se, pequena. Seu pai está te esperando lá em baixo, ao que parece, alguém vai receber uma coisinha verde. – Com um riso quase inocente, Prue se retirou, fechando a porta.
Se a intenção da maior era fazer a ansiedade dominar a filha, deu certo. Ruby levantou rapidamente e já estava abrindo a porta quando encarou o próprio corpo. Não poderia descer daquela forma, metida dentro da camisola de linho branco. Conhecia a tradição muito bem! Assim, apesar da ansiedade, a pequena foi para o banheiro e se arrumou para a ocasião. Tomou um longo banho, penteou-se e vestiu-se como deveria, arrumando o corpo dentro de um vestido negro com detalhes roxos, pouco acima dos joelhos.
Foi só nesse momento, depois de arrumar os cabelos, que lhe caiam soltos até o meio das costas, que ela abriu a porta e desceu a escada em passos lentos. Os degraus de madeira antiga e escura rangiam apesar de sua leveza notável. Ruby mantinha a mão no corrimão, embora tivesse a certeza que não iria cair. Os passos continuaram, guiando a garota até a sala de estar da grande casa.
Todo o barulho, produzido pelos diversos familiares, cessou no exato momento em que Ruby atravessou a porta. Pessoas das duas famílias, Mayfair e Halliwell, estavam acomodadas em sofás confortáveis, as crianças sentaram-se em frente a lareira e Julien estava encostado da grande poltrona de veludo negro, um vulto bonito e esquio contra a claridade quase cegante da enorme janela atrás de si, envolvida por leves cortinas de seda branca. Pelo murmúrio distante, Ruby sabia que algumas pessoas estavam na sala de jantar, provavelmente comendo as coisas gostosas preparadas para a ocasião. Por um momento, seu estomago protestou, mas Ruby se manteve firme, parada a porta enquanto olhava todos ao redor.
Julien se moveu lentamente, esticando a mão na direção da filha. – Ruby, minha joia. Venha cá. – Murmurou, a voz doce. A garota, que esperou boa parte da vida por aquilo, caminhou devagar até seu pai, contendo com dificuldade a ansiedade. O mais velho se levantou e foi só nesse momento que ela notou a caixa de veludo roxo nas mãos pálidas dele. – Minha filha... Quinze aniversários, minha filha. – A mão dele tocou os cabelos ruivos da garota, sorrindo-lhe com ternura. – É a hora de assumir suas honras e deveres... Hoje, na presença de todos vocês. – Julien fez uma pausa, encarando todos os presentes. – Eu passo o legado para Ruby Halliwell Mayfair, e lhe declaro a legitima beneficiária. – Sua voz era calma, todos podiam lhe ouvir perfeitamente.
O homem abriu a caixa de veludo, revelando a joia. Era uma corrente de ouro simples, mas seu pingente era uma grande esmeralda envolvida delicadamente pelo mesmo ouro da corrente. – Você está pronta? Ele irá te acompanhar sempre, a partir de agora. – Julien sussurrou, embora soubesse que a filha era forte o suficiente para aquilo. – Ele sempre esteve comigo. – Ruby respondeu no mesmo tom do pai, que afirmou com a cabeça enquanto pegava a joia com cuidado. Ruby se virou, permitindo a Julien pousar o colar em seu pescoço. Naquele momento, a garota podia sentir o toque extramente frio da esmeralda, tão verde quanto os olhos da menina, tão forte quanto seu espírito.

Uma brisa, gélida e ao mesmo tempo suave, tocou o corpo de Ruby. Então a voz encheu sua mente, como se tivesse vinda de todos os lados e ao mesmo tempo de lugar algum. – Minha amada. Minha amada Ruby. – A voz de Lasher, tão familiar, fez a menina sorrir. Ninguém da família, exceto por Julien, pareceu notar a manifestação do espírito. Seu pai virou-a de frente para si, abraçando o corpo delicado da filha contra o seu demoradamente. – Você é capaz de controla-lo, e eu estou contigo. – Ele sussurrou, beijando-lhe a bochecha. Então voltou a se sentar na poltrona, sorrindo para a filha. – Vá, pequena. Sua mãe está te esperando para comer e começar os preparativos para sua festa. És agora uma mulher feita. – Ruby não deixou de sorrir diante da ideia da comemoração e assim se afastou, ostentando orgulhosa - pela primeira vez, embora não a ultima -  a joia da família,