“Quando
ela veio a mim parecia irreal. Até mesmo para um sonho, a beleza dela, o poder,
o charme. Tudo era demais, até mesmo para um sonho... Mas essa historia não
começa aqui.”
Há
tempos, nos sonhos de Kassandra, surge o Egito. Suas grandes planícies de
areias pálidas, seu sol forte, suas construções grandiosas, seus deuses
poderosos. Até mesmo quando o sonho, em si, não envolve o Egito, ele sempre
está lá em algum lugar, sempre existe uma referencia, um pequeno símbolo que
seja.
Dessa
vez ela caminhava por um longo corredor de paredes beges, iluminado pela luz
forte dos archotes espalhados por todo o mesmo. As sombras nas paredes pareciam
dançar num ritmo muito peculiar. A garota parou, por um momento, a fim de
desvendar os desenhos na parede e, muito embora nunca tenha sequer estudado hieróglifos,
algo dentro dela dizia que o padrão ali
presente mostrava ora a palavra ‘caminho’, ora ‘destino’. Uma voz suave a
chamava pelo nome, o VERDADEIRO nome.
Em
um momento os archotes sumiram, mas a garota continuou caminhando. Sentia como
se conhecesse o caminho perfeitamente, como se o tivesse feito durante toda sua
vida. As pontas dos dedos roçavam as paredes enquanto a menina subia,
tranquila, um grande lances de escada. Adentrou a outro corredor e no fim do
mesmo, uma luz.
Kassandra
seguiu a luz e descobriu que a mesma era proveniente do maior cômodo que ela
jamais viu. Era uma sala ampla, com o pé direito extremamente alto. Por todo o
lugar havia enormes jarros, todos ricamente decorados com imagens lindas e
contendo flores tão belas e coloridas quanto possível. No centro da sala, num
patamar muito elevado, havia um trono enorme. Os raios de sol, quando tocavam a
peça de ouro, faziam o brilho da mesma espalhar-se por todo o cômodo,
iluminando-o por completo.
Sentada
no trono estava a mulher mais linda que Kass já ousou olhar. Perto dela as
flores dos vasos não pareciam nada além de galhos secos. Aquela mulher tinha
uma aura tão forte de poder que, mesmo estando consideravelmente longe,
Kassandra abaixou a cabeça e se ajoelhou. –
Erga-se e venha até mim. – A voz dela era tão suave, mas preenchia o cômodo
de forma inacreditável.
A
garota obedeceu, obviamente. Caminhou até o primeiro degrau da longa escadaria
e apenas começou a subir quando obteve, com um aceno lento, a permissão da
mulher. Ao se aproximar, Kass pode notar o quanto a egípcia era linda. Sua pele
era levemente bronzeada, tinha os seios fartos e uma cintura fina, bem marcada.
Os cabelos, negros, caiam até pouco abaixo dos ombros e tinham um perfeito que
combinava, de forma perfeita, o aroma cítrico ao doce. Estava vestida tipicamente,
com um belo traje branco. Tinha os olhos da cor da noite, emoldurados por um
rosto de formas perfeitas. Era tão linda que fez Kassandra perder o fôlego e
quase que a consciência de si mesma enquanto a fitava.
Kassandra
parou a poucos metros do trono e pela primeira vez, olhou para baixo, para o próprio
corpo. Por algum motivo desconhecido ela não estava, como nos outros sonhos,
vestida segundo o costume do antigo Egito. Estava, dessa vez, enfiada dentro de
um short jeans que mostravam suas pernas e de sua camiseta preferida, descalça.
Quando as duvidas começavam a lhe assombrar, a voz da mulher se fez presente,
atraindo a atenção da ruiva. - Eu
concebi, carreguei e dei à luz a toda vida. Depois de dar-lhe todo meu amor,
dei-lhe também meu amado Osíris para ser ceifado e nascer outra vez.Cuidei de
você na doença, fiz suas roupas, observei seus primeiros passos. Estive com
você até mesmo no final, segurando sua mão para guiá-la para a imortalidade.
Você para mim é TUDO, e eu lhe dei TUDO e para você eu fui TUDO... Eu sou sua
Grande-Mãe, ÍSIS! – Os olhos de Kassandra não se desviaram nem por um
momento. A voz suave e aveludada enchia a mente da garota com cenas que ela
sabia já conhecer.
Então,
Ísis se levantou. O silencio do mundo era absoluto, parecia que tudo tinha
segurado a respiração naquele momento apenas para ver quando, com um caminhar
lento, a deusa se aproximou de Kassandra. – Você me reconhece, pois a mim era
destinada desde o começo. Não foram os outros, fui eu. Lhe torturei duramente,
confesso, mas era para anunciar que a mim pertencia. – Embora sentisse um
arrepio lhe tocando a espinha com a aproximação da Deusa, a ruiva não se moveu
nenhum centímetro. – Deixei que a lua se renovasse por diversas vezes para que
você se tornasse mais forte. Mas alguns viram o que fiz contigo, alguns estavam
lá e podem atestar. Aconteceram, naquele lugar, muitas coisas, mas você foi a
primeira. Você abriu as portas, porque assim como eu, você é o inicio.
Escolhi-te por toda sua força, pois, como eu, você é o trono, a sede. Você foi
feita para sustentar todo o poder a sua volta, para ser o pilar e não deixar
que os outros se desfaçam. – Cada palavra tocava a alma da menina de uma forma
profunda, cada palavra trazia lembranças.
Ísis
entrelaçou suas mãos as mãos da menina. Sua energia era gélida, mas confortável
e extremamente forte. Seus corpos estavam juntos agora, tocando-se apesar dos
tecidos. Os lábios da Deusa estavam a poucos centímetros da orelha da menina
que sentia a respiração lenda de Ísis em sua pele. – Não és Le Fay. É delas,
sim, mas não tanto quanto és minha, pois sou aquela que lhe concedeu a
autoridade que tens agora. Você me pertence, Kira. – Quando a ultima palavra
foi preferida, Kassandra sentiu o corpo gelar e os olhos se fecharem.